VOLTAR ATRÁS, CORRIGIR OS ERROS, VIVER AS COISAS SEGUNDA VEZ: E SE FOSSE POSSÍVEL ?

Meio século depois da catástrofe, ainda há uma Lisboa de ruelas e escadinhas que apodrece ao sol, mas a vida reorganiza-se nos bairros novos, entre muros. No Verão, sob a cobertura de vidro chinês, a cidade é um forno. Se aquele rio estivesse à vista, seria impossível trabalhar seis dias por semana. Mas quem se lembraria de procurar uma janela no topo dos edifícios mais altos? À noite, cumprida a atribuição, se alguém quiser dar umas braçadas pode ligar-se ao módulo. No melhor dos mundos, o mar não é tóxico.

Cumprir 17 anos dá acesso a essa realidade; ou, melhor, é a idade em que se recebe a atribuição, o trabalho imposto em função do bem comum: mas uma coisa implica a outra. Ninguém quer continuar a estudar quando, finalmente, há um mundo de experiências ao alcance no Rest.

TINHAM-LHE FALADO DO TRAVO A SAL NA LÍNGUA, MAS NÃO HAVIA PALAVRAS: ERA PRECISO EXPERIMENTAR

O Rest satisfaz o desejo colectivo de reparar o irreparável. Muitos não sabem, mas o nome ainda vem do latim: restauratio, o planeta restaurado, novamente habitável por intermédio de um fantasma virtual. Não é a mesma coisa, dizem alguns. Mas é claro que nenhum jovem conheceu o original. Cada vez mais, o modelo constitui um mundo em si, sem ponto de comparação.

No paraíso privado, o mundo recria-se à medida do próprio desejo. Mas agora isso pode mudar: a agência Bóreas, que gere o acesso ao mundo virtual nos países do Bloco sino-europeu, está a trabalhar secretamente num novo protótipo. O Rest.2 abre portas, permite a interacção, dá lugar ao imprevisto.

Marcello Galvano, agente italiano em Lisboa, tem a responsabilidade de conduzir um projecto-chave nas instalações da Bóreas, como tutor de uma equipa de seis adolescentes. Aos jovens, todos com cerca de 17 anos, cabe a missão de testar e expandir o novo protótipo; são eles os impulsores.

REST

modelo de mundo virtual, que restaura o planeta como era antigamente

BÓREAS

agência que gere o acesso ao Rest e desenvolve um protótipo avançado

IMPULSORES

seis jovens que têm de testar o Rest.2, novo protótipo do mundo virtual

FANTASMA

representante virtual de um utilizador numa ligação ao Rest ou ao Rest.2

NÓS SOMOS OS PIONEIROS, VIVEMOS EXPERIÊNCIAS VERDADEIRAS NUM MUNDO FALSO

 

As razões da selecção permanecem um mistério. Algum critério foi tido em conta para o cargo? Porque é que uma especialista no mundo virtual convive com colegas leigos na matéria? Como é que uns são amigos de infância e outros provêm de cidades diferentes? O que une a acanhada Elda, o desportista Bartolomeu, a resoluta Carola, o céptico Fernão e a ambiciosa Brísida?

As perguntas adensam-se com a morte súbita do sexto impulsor, Flávio, de quem nada se sabe, e com a designação do substituto Tiago, incapaz de se ligar ao Rest.2. Marcello furta-se a respostas no seu português peculiar e os objectivos a atingir com o projecto permanecem obscuros para estes jovens.

Se a missão lhes concede poderes extraordinários num mundo forjado,  as consequências fazem-se sentir na vida real. O percurso dos seis divide-se, pois, entre as revelações que vão tendo sobre si próprios e a incompreensão perante os múltiplos segredos do projecto. Entre experiências impossíveis e emoções verídicas, os impulsores tentam construir uma identidade.

Segunda Vez, impulsores na praia de Odeceixe